quinta-feira, 14 de abril de 2011

Que futuro terão nossos filhos?

Aproveitamos o sentimento de indignação e tristeza que nos abalou nos últimos dias para convoca-los para uma mobilização pelo futuro das nossas crianças. A tragédia absurda ocorrida na escola em Realengo (Rio de Janeiro) é resultado de uma estrutura complexa que tem regido nossa vida em sociedade. O problema vai muito além de um sujeito qualquer decidir invadir uma escola e atirar em crianças. Armas não nascem em árvores.

A coisa está feia: choramos por essas crianças, mas não podemos nos deixar abater pelo medo, nem nos submeter aos valores deturpados que têm regido nossa sociedade propiciando esse tipo de crime. Não vamos apenas chorar e reclamar: vamos assumir nossa responsabilidade, refletir, trocar ideias e compartilhar planos de ação por um futuro melhor. Então, mães e pais, como realizar uma revolução que seja capaz de mudar esses valores sociais inadequados?
Vamos agir, fazer barulho, promover mudanças! Acreditamos na mudança a longo prazo. Precisamos começar a investir nas novas gerações: a esperança está na infância. Vamos fazer nossa parte: ensinar nossos filhos pra que façam a deles.

Se desejamos alcançar uma paz real no mundo,temos de começar pelas crianças. Gandhi

O que estamos fazendo com a infância de nossas crianças?

Com frequência pais e mães passam o dia longe dos filhos porque precisam trabalhar para manter a dinâmica do consumo desenfreado. Terceirizam os cuidados e a educação deles a pessoas cujos valores pessoais pensam conhecer e que não são os valores familiares. Acabamos dedicando pouco tempo de qualidade, quando eles mais precisam da convivência familiar. Assim, como é possível orientar, entender, detectar e reverter tanta influência externa a que estão expostos na nossa longa ausência? Estamos educando ou estamos nos enganando?

O que vemos hoje são crianças massacradas e hiperestimuladas a serem adultos competitivos desde a pré-escola. Estão constantemente expostos à padronização, competição, preconceito, discriminação, humilhação, bullying, violência, erotização precoce, consumo desenfreado, culto ao corpo, etc.
O estímulo ao consumo desenfreado é uma das maiores causas da insatisfação compulsiva de nossa sociedade e de tantos casos de depressão e episódios de violência. Daí o desejo de consumo ser a maior causa de crime entre jovens. O ter superou o ser. Isso porque a aparência é mais importante do que o caráter. Precisamos ensinar nossos filhos que a felicidade não está no que possuímos, mas no que somos. Afinal, somos o exemplo e eles repetem tudo o que fazemos e o modo como nos comportamos. E o que ensinamos a nossos filhos sobre o consumo? Como nos comportamos como consumidores? Onde levamos nossos filhos para passear com mais frequência? Em shoppings?

Quanto tempo nossos filhos passam na frente da TV? 10 desenhos por dia são 5 horas em frente à TV sentados, sem se movimentar, sem se exercitar, sendo bombardeados por mensagens nem sempre educativas e por publicidade mentirosa que incentiva o consumo desde cedo, inclusive de alimentos nada saudáveis. Mais tempo do que passam na escola ou mesmo conosco que somos seus pais!

Porque os brinquedos voltados para os meninos são geralmente incentivadores do comportamento violento como armas, guerras, monstros, luta? A masculinidade devia ser representada pela violência? Será que isso não contribui para a banalização da violência desde a infância? Quando o atirador entrou na escola com armas em punho, as crianças acharam que ele estava brincando.

Nós cidadãos precisamos apoiar ações em que acreditamos e cobrar do Estado sua implementação, como o controle de armas, segurança nas escolas, mudança na legislação penal, etc. Mas acima de qualquer coisa precisamos de pessoas melhores. Isso inclui educação formal e apoio emocional desde a infância. É hora de pensar nos filhos que queremos deixar para o mundo, para que eles possam começar a vida fazendo seu melhor. Criança precisa brincar para se desenvolver de forma sadia. É na brincadeira que elas se descobrem como indivíduos e aprendem a se relacionar com o mundo.

Nós pais precisamos dedicar mais tempo de convivência com nossos filhos e estar atentos aos sinais que mostram se estão indo bem ou não. Colocamos os filhos no mundo e somos responsáveis por eles! Eles precisam se sentir amados e amparados. Vamos orientá-los para que eles sejam médicos por amor não por status, que sejam políticos para melhorar a sociedade não por poder, funcionários públicos por competência e não pela estabilidade, juízes justos, advogados e jornalistas comprometidos com a verdade e a ética, enfim!

Precisamos cobrar mais responsabilidade das escolas que precisam se preocupar mais em educar de verdade e para um futuro de paz. Chega de escolas que tratam alunos como clientes.

Não temos mais tempo a perder. Ou todos nós, cedo ou tarde, faremos parte da estatística da violência. Convidamos todos a começar hoje. Sabemos que não é fácil. E alguma coisa nessa vida é? Vamos olhar com mais atenção para nossos filhos, vamos ser pais mais presentes, vamos cobrar mais da sociedade que nos ajude a preparar crianças melhores para um mundo melhor!

Nossa proposta aqui é de união e ação para promover uma verdadeira mudança social. A mudança do medo para o AMOR, do individualismo para a FRATERNIDADE e para a EMPATIA, da violência para a GENTILEZA e a PAZ.

Créditos:
 
Ana Cláudia Bessa http://www.futurodopresente.com.br/

Cristiane Iannacconi http://www.ciclicca.blogspot.com/
Letícia Dawahri http://sorrisosdaalma.blogspot.com/
Monique Futscher http://www.mimirabolantes.blogspot.com/

Renata Matteoni http://www.rematteoni.wordpress.com/

5 comentários:

Carla Castro Maia disse...

Nossa, Carlinha, isso é sarna pra se coçar e não parar mais.
Olha só, vou pegar no individualismo, este um grande veneno da sociedade, proliferou pelo mundo mas é mais sentido em países de 3ª, 4º, 5º... escalão, isso pq as leis não são levadas a sério. Mas n é só isso. Trata-se do resultado de um desencadeamento de vários fatores, o efeito dominó na sua visão mais pura e sob diversos ângulos:
- Educação precária, pobreza, marginalidade; corrupção, mau uso do dinheiro público, incompetência; inércia social, omissão de responsabilidade, cidadania inapta; individualismo, ambição, desonestidade (ao extremo)... Quer mais? Acho q não há necessidade.
Por conta disso, eu não acredito numa solução pura como a que vc dá: a convocação da sociedade para se posicionar, reagir, arregaçar as mangas... Acho que é coisa demais para uma sociedade cheia de vícios assimilar. Está mais para discussão em roll de amigos, no boteco, entre umas goladas de chope, como tantos outros assuntos (lembra do pedrinho? O menino de 6 anos, preso do lado de fora do carro, o corpinho jogado pra cá e pra lá na maior violência?) Pelo amor de Deus, onde foi parar a discussão? Quais medidas de prevenção? Vc sabe que o que está levando as autoridades a mostrarem serviço no Rio é a Copa, Jogos Olímpicos(?)
Olha eu defendo o uso da psicologia como um serviço social. Terapia periódica e obrigatória para todo o cidadão, já desde o pré. Uma coadjuvação de psicologia e filosofia, numa linguagem e moldes aos tempos atuais, na educação, terapia para a família e todo o profissional, sem exceção. Coloque-se aí políticos (desde o presidente), juristas, profissionais da medicina, professores, donas de casa, mães, enfim, todos. Com presença de profissionais nos postos de saúde, nas empresas, mas exercendo a sua profissão e não aplicando apenas testes em candidatos. Esta uma bandeira minha, muito antiga, que menciono em vários artigos no meu blog. Tenho certeza que isso iria abrir os olhos das pessoas, trazer alívio, conter loucuras, levantar a auto-estima e então gerar a empatia q vc menciona, daí viria o auto-respeito e respeito pelo outro... Um efeito cascata às avessas. Consegue ver? E perceba q seria obrigatório passar, pelo menos 1 vez ao ano, por um período considerável, pelas mãos de um psicólogo.
Acho q dá pra ter uma idéia. Essa seria uma forma de crescermos como cidadãos éticos, preocupados com o futuro, nosso e do planeta, preparados finalmente para acompanhar e usar civilizadamente os recursos tecnológicos.

Fernanda Pimenta disse...

Olá Carla,

Adorei o seu Blog

Visite o Tudo no Lugar e me ajude a prestar uma homenagem a todas a mamães
http://blogtudonolugar.blogspot.com/2011/04/atencao-mamaes.html

Te aguardo!

beijos
Fernanda

Roupas de Bebe disse...

Belo texto. Me fez refletir muito, precisamos pensar mais sobre que futuro queremos para os nossos filhos. Como diz a Biblía ensina o seu filho no caminho em que deve andar, devemos dar bons exemplos aos nossos filhos e tentar pelo menos dar uma ótima educação. E muito amor, carinho e atenção.

Beijos

Ana

Diários do Papai disse...

O desabafo é válido, mas, infelizmente, fruto de um caos recente e, ainda mais infelizmente, morrerá à medida em que o tempo passar... Porque o Brasil "é de paz, samba e alegria", e a Copa vem aí, juntamente a mais eleições e olimpíadas e... Bom, se queremos mudar algo, façamos disto uma bandeira eternamente levantada no pavilhão mais alto por meio de cada vez maior número de associações (de pais e mestres, de escolas, universidades, de direitos humanos...) e levemos isto ao maior número de profissionais das área humanas (Direito, Assistência Social, Comunicação) e de saúde (Medicina, Psicologia...) para que algo, AOS POUCOS, comece a acontecer... Ou seja: tudo esmorece antes mesmo de começar, né? Trabalho demais...

Então, pelo menos de vez em quando, a gente dá um grito pelos nossos humildes bloguinhos e vê se alguém compra a nossa idéia e leva adiante... Parabéns pelo desabafo coletivo: a sociedade, sem dúvida, precisa reagir a muita coisa errada...

Abração e não deixe de aparecer nos Diários! E uma feliz Páscoa!

Penélope disse...

Carla, você é a minoria das pessoas que ao ter filhos abdicou de uma profissão para educar seus filhos e acompanhá-los da melhor maneira possível
As crianças aprendem o que vivenciam, este é o nome de um livro escrito por Dorothy Notte e Rachel Harris, que diz bem isso...
somos espelhos que refletem as ações que nossos filhos terão.
Chego a pensar que tudo esta se tornando uma bola de neve imensa, pronta para uma avalanche sem fim... com os pais cada vez mais ausentes da vida de seus rebentos e mal estruturados para cobrar políticas eficazes, bem, não sei ao certo onde vamos parar... ou melhor, onde as nossas crianças vão parara.
Abraços